A virada da infraestrutura

Novos projetos no Brasil trazem atrativos importantes para investidores canadenses

 Por Sérgio Siscaro

Transporte, saneamento básico, energia, mineração, telecomunicação e exploração de petróleo e gás. Estes são alguns dos setores da infraestrutura brasileira que deverão assistir a um aumento em investimentos nos próximos anos, resultado tanto de privatizações e concessões feitas pelo poder público quanto do interesse em investidores internacionais nessas áreas.

Nesse cenário, a participação do Canadá pode ser decisiva – não só por meio da alocação de capitais, mas também por meio da introdução de soluções tecnológicas que possibilitem ao Brasil superar seus gargalos de infraestrutura. “Para fazer frente a uma nova tendência global protecionista de local sourcing e manter sua posição dominante no mercado exportador de commodities, o país precisar reduzir imediatamente seus gargalos de infraestrutura e logística com um programa agressivo de investimentos, incentivos e segurança jurídica para o setor”, avalia o vice-presidente da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC), Bayard Lucas de Lima.

O tema foi tratado em Oportunidades de Investimento no Setor de Infraestrutura no Brasil, evento online realizado em 10 de setembro e que fechou a programação da segunda edição do Brazilian Week CCBC Online Festival – iniciativa da CCBC que trouxe uma série de apresentações sobre as potencialidades do país para o desenvolvimento de novos negócios.

Relacionamento de sucesso

Na abertura do evento, o embaixador do Brasil no Canadá, Pedro Henrique Lopes Bório, salientou a cooperação bilateral, que tem mais de um século de história. “Esta é uma longa história de sucesso, particularmente no campo dos negócios. E a infraestrutura é a área em que podemos ter grandes desenvolvimentos no relacionamento entre Brasil e Canadá – não só por meio do impacto positivo da participação de empresas canadenses na privatização de operadoras de serviços públicos no Brasil, mas também pela participação de fundos de investimento e outros players.”

Na ocasião, o diplomata também ressaltou a contribuição que a tecnologia canadense pode ter no Brasil em setores como fontes renováveis de energia, biomedicina, inteligência artificial e outros, voltados ao que denominou “agenda do futuro”. “Estamos muito confiantes de que os laços econômicos entre os dois países continuarão a florescer”, concluiu.

A seguir, o diretor de Planejamento e Economia da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Igor Rocha, expôs o desafio atual do Brasil em atrair mais investimentos para o setor de infraestrutura. De acordo com ele, o país ainda dedica uma fatia muito pequena de seu Produto Interno Bruto (PIB) para esses projetos – ao contrário de países como China, Vietnã e África do Sul. “Temos ainda grandes gaps no Brasil – e o papel do poder público é muito importante, por atrair fontes variadas de investimentos”, prosseguiu, elencando o setor de transporte e logística como o que mais requer recursos atualmente.

A estratégia do governo federal foi apresentada pelo secretário especial adjunto da Secretaria Especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Bruno Westin Prado Soares Leal. De acordo com ele, o programa atua como um hub para investimentos, contribuindo para sua eficiência. Entre janeiro de 2019 e setembro de 2021, o PPI teria realizado 112 projetos e/ou leilões, que deverão atrair investimentos da ordem de US$ 190 bilhões, e concessões de US$ 25 bilhões. Atualmente, a iniciativa teria 197 projetos em seu portfólio, cobrindo áreas como portos, aeroportos, defesa, óleo e gás, rodovias, energia, mineração, entre outras.

A seguir, dois advogados do escritório Trench Rossi Watanabe, Sílvia Bernardino e Bruno Duarte, abordaram as características brasileiras nos processos de investimentos em infraestrutura – apontando para o alto grau de burocracia do país e para a necessidade de os interessados acompanharem atentamente o processo de consultas públicas, a fim de apresentarem propostas mais alinhadas aos projetos.

E, por fim, os diretores Bernardo Ortiz e Muddassar Cheema, da empresa  IBI Group –  especializada em smart cities e construções de edifícios sustentáveis e eficientes, sediada no Canadá – falaram um pouco de sua experiência no mercado brasileiro, deixando aos participantes um testemunho das oportunidades abertas a companhias canadenses, especialmente na área de tecnologia, no país. “Mas é necessário se ter uma estratégia de longo prazo ao ir para o Brasil, assim como entender como os brasileiros trabalham”, pontuou Cheema.

As múltiplas faces do Brasil

Entre 7 e 9 de setembro, a Brazilian Week apresentou a seus participantes uma série de painéis voltados às oportunidades oferecidas ao Canadá pelo Brasil em uma variada gama de setores e atividades. O evento, realizado novamente em modelo virtual por conta da pandemia do novo coronavírus, teve como idioma oficial o inglês, e um dos painéis foi apresentado em francês. “Aproximar Brasil e Canadá sempre foi nossa principal preocupação”, afirmou na ocasião o diretor de Relações Institucionais da Câmara, Paulo de Castro Reis.

No primeiro dia, o foco do evento se voltou às oportunidades oferecidas pelo setor de alimentos e bebidas. Importadores, distribuidores e retailers canadenses que atuam nesse segmento participaram de uma apresentação sobre o cacau de origem e chocolate brasileiros, elaborada pela Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab). A escolha do setor se deve a seu grande potencial de crescimento de negócios do Brasil para o Canadá: segundo dados da balança comercial, as categorias de produtos que incluem chocolate têm se destacado ano a ano, registrando altas de 46% (de 2017 a 2018), 72,9% (de 2018 a 2019) e expressivos 145,7% (de 2019 a 2020).

Outra área de atividade que também oferece grande oportunidades é a de saúde, abordada no dia seguinte. Foi mostrado um panorama das oportunidades que o setor oferece a empresas canadenses que atuam nessa área, bem como a agências de fomento, governos e hospitais. No mesmo dia, a programação da Brazilian Week incluiu uma apresentação em francês, voltada a empresas da província de Quebec, trazendo informações sobre o processo de abertura de negócios no Brasil para empresas interessadas em internacionalizar suas atividades e ingressarem no país – inclusive explicando as características do complexo sistema tributário do país. A iniciativa deverá ser expandida, por meio de road shows virtuais em outras províncias do Canadá.

O crescimento cada vez maior da agenda ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês) nas empresas fez com que o tema também marcasse presença no evento. Por essa razão, o painel do dia 9 buscou trazer informações sobre a evolução das regras e práticas anticorrupção no Brasil e seu impacto no mercado de capitais. A apresentação foi realizada pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

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