Se no começo a história da energia elétrica no Brasil teve como um dos protagonistas o Grupo canadense Light, o futuro do setor no país também pode estar conectado a empresas com sede no Canadá. No início do século XX, o Grupo Light foi responsável pela distribuição de energia no eixo Rio-São Paulo, chegando a oferecer serviços de bondes elétricos e telefonia. Agora, iluminadas pela era digital, empresas canadenses e brasileiras do segmento miram seus holofotes na direção de dados e inteligência artificial, em busca de projetos mais eficientes e sustentáveis.
A proximidade entre os dois países não acaba aí. Ambos possuem territórios de dimensões continentais, onde lidam com desafios como a manutenção das linhas de transmissão de longas distâncias. São ao lado dos EUA os maiores produtores de eletricidade das Américas e se posicionam entre as cinco nações com a maior capacidade de produção de energia a partir de usinas hidrelétricas – com menor impacto ambiental do que as térmicas. Ao todo, mais de 60% da produção de Brasil e Canadá têm origem nas hidrelétricas.
Em um curto prazo, essa relação pode se estreitar ainda mais. De acordo com Laura Netto, Trade Commissioner do Consulado do Canadá no Rio de Janeiro, esse é um momento muito favorável para novos negócios entre os dois países. “Há muitas empresas comprando outras, com necessidade de renovar seus parques tecnológicos e infraestrutura”, diz. Nos últimos anos, a Energisa adquiriu uma série de distribuidoras. Em 2018, a italiana Enel comprou a Eletropaulo e o setor de energia atingiu a terceira maior alta em fusões e aquisições dos últimos 20 anos. Também há grandes expectativas relacionadas à privatização da Eletrobras.
Novas tecnologias: agilidade na manutenção e ganhos de eficiência
Em outubro, o Consulado promoveu uma missão comercial que levou representantes de empresas brasileiras para conhecer organizações, universidades e centros de inovação canadenses. A agenda do encontro envolveu visitas a empresas líderes internacionais de mercado, como a HydroQuebec, e a instituições como o Mila, localizado em Montreal, uma das principais referências mundiais em inteligência artificial.
“O Canadá tem uma rede consolidada que fomenta a tecnologia. O país é líder em telecomunicações e TI, áreas essenciais para o desenvolvimento de softwares e equipamentos para o setor de energia”, destaca Laura. Ela lembra que o Brasil também tem experiências importantes a acrescentar nos debates no setor. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) está entre os maiores do mundo. “Um sistema totalmente integrado, que possibilita o consumo em Manaus da energia gerada em Itaipu”, exemplifica.
Conheça algumas das principais tecnologias apresentadas na missão:
Não é videogame, mas tem joystick
O Linescout é um robô desenvolvido pela HydroQuebec para inspecionar linhas de transmissão, facilitando a manutenção em ambientes de difícil acesso, como nas altas torres localizadas entre rios e vegetação densa. O Linescout identifica curtos e confere as condições de cabos e equipamentos. Se necessário, um funcionário usa um joystick à distância para guiar o robô e realizar o reparo na linha, que não precisa ser desligada para o trabalho.
As águas vão rolar
O Water Rotor é uma turbina aperfeiçoada com tecnologia da Nasa que impulsiona a água de rios e córregos com fluxos muito baixos Seu fabricante afirma ser “a primeira tecnologia a coletar eletricidade de forma econômica e acessível a partir de água em movimento lento”, que cobre 71% do planeta. A inovação pode beneficiar 1,2 bilhão de pessoas sem eletricidade e mais de 800 milhões que dependem de energia de alto custo, com origem em combustíveis fósseis. A empresa estima um mercado de US$ 100 bilhões.
Prevendo problemas no transformador
Sensor desenvolvido pela Zensol Automation que fica posicionado na parte externa do transformador. A tecnologia identifica a necessidade de manutenção, antes que equipamento pare de funcionar. Ao emitir alertas para que um técnico efetue os devidos reparos, evita casos mais graves, como estouro do transformador ou incêndio.
A missão
A missão comercial reuniu no Canadá as empresas Energisa, Taesa, Furnas, Equatorial, Empresa de Pesquisa Energética e Romagnole. Foi promovida pelo Consulado do Canadá no Brasil, em conjunto com o governo federal do Canadá, província de Ontário, província do Quebec e Agência de Crédito à Exportação do Canadá.